O COOPERATIVISMO COMO UMA REFORMULAÇÃO DAS ESTRUTURAS SOCIAIS E ECONÔMICAS DOS GARIMPOS NO AMAPÁ

Há séculos a extração mineral no Amapá é realizada. Inicialmente de forma artesanal por imigrantes em sua maioria das Guianas francesa e holandesa e posteriormente por grandes empresas de exploração mineral, nacionais e internacionais.

O fato de desde sempre a atividade mineral ter sido realizada por pessoas de fora da nossa região, da nossa cultura e da conexão que temos com este lugar que é o nosso estado, o estado do Amapá, fez com que o foco sempre tenha sido progredir financeiramente através do minério, especificamente do ouro, sem nenhum planejamento social e econômico das comunidades já existentes ou das que viriam a serem fundadas pelos garimpeiros que nesta terra se firmaram.

Hoje a atividade mineral no Amapá e no Brasil enfrenta o grande conflito da falta de conciliação com a as lutas pela preservação ambiental, o Amapá com um atenuante de possuir o título de estado mais preservado do país ao mesmo tempo em que tem em seu solo grandes riquezas minerais despertando em muitos o interesse pela exploração. Os dois lados sempre se enfrentando com os mesmos discursos e a gente segue sem possibilidades de solução. Do lado ambientalista temos a luta por preservar 70% do seu território institucionalizado como área protegida (Unidades de conservação e áreas indígenas), que se colocam ameaçadas pela atividade mineral, principalmente as que ocorrem ilegalmente. Do outro lado temos a atividade mineral que cita sempre a perda de desenvolvimento e crescimento econômico do estado. Não existe uma receita pronta que irá solucionar este conflito e dizer que um está certo e outro errado é tornar uma discussão tão complexa em algo raso. Se omitir do debate e fingir que as problemáticas não existem, beira a covardia.

Pensar o cooperativismo nessas áreas pode vir não como uma solução imediata, mas como uma ação que dará início a debater essas complexidades da atividade que de forma efetiva beneficie social e economicamente essas localidades. A maior vantagem da
atividade mineral artesanal se organizar enquanto cooperativa é sair da ilegalidade. Os garimpeiros que do imaginário nacional seriam os primeiros exploradores a fazerem descobertas neste país saíram desse lugar para uma figura marginalizada que apenas destroem o meio em que vive. Desconstruir essa imagem hoje formada principalmente por quem é alheio a realidade dos garimpos é uma tarefa difícil.

A desumanização e marginalização de homens e mulheres que todos os dias descem em poços de mais de 60 metros, carregam sacos cheios de terra nas costas, colocam suas vidas em risco muitas vezes só para ter o que comer, é covardia. Na ausência do estado
que é uma certeza nessas áreas, as cooperativas vem com a responsabilidade não só de administrar as riquezas produzidas da atividade mineral, mas também com a obrigação de pensar nessa organização social, que é possível. Analisando a situação socioeconômica
dos garimpeiros e suas famílias, os impactos das atividades garimpeiras no meio ambiente, elaborando propostas para reduzir a degradação ambiental, principalmente quanto ao uso do mercúrio que além de prejudicial para o solo, os rios, prejudica a saúde dos trabalhadores. Melhorar o processo organizacional do garimpo. Incentivar o beneficiamento do ouro na própria região, não adianta só querer tirar a riqueza das terras e reproduzir os moldes estrangeiros que só exploraram e abandonam, as cooperativas que hoje se estruturam são de pessoas daqui ou de quem por aqui se firmou com suas famílias, com uma história de vida. É preciso investir nas comunidades, no mínimo de dignidade humana, integrar o garimpeiro e suas famílias na organização comunitária.

Um exemplo de um processo de trabalho comunitário que é possível, foram as organizações conjuntas de uma cooperativa de garimpeiros e uma associação de produtores rurais no garimpo do Vila Nova, na região do município de Porto Grande-AP. A agricultura é uma atividade simultânea para a maioria das famílias de garimpeiros. Essa junção de organização comunitária conseguiu de forma efetiva lutar pela garantia de direitos mínimos daquela população, conseguindo energia elétrica, escolas, redução da violência e principalmente a legalização da área que abriga mais de 1000 famílias que dependem da atividade mineral.

Infelizmente esse processo todo depende de gestão, quemuitas vezes se perde ao reproduzir um processo de extração mineral decadente, que
claramente não funciona mais. Não adianta querer mudar a imagem marginalizada dos garimpos, se essencialmente essas estruturas não mudarem, se ao visitarmos as localidades o abandono social ainda esteja ali escancarado, se o pequeno garimpeiro ainda arrisca sua vida por um prato de comida. Através do cooperativismo é possível mudar essa realidade, se cada gestão assumir esse compromisso de forma honesta e responsável, é possível construir de forma autônoma e coletiva um futuro mais digno.

Autora: Rayane Penha

About Lílian Guimarães

Assessoria de Comunicação OCB/AP Contato: 98124-9681

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