Cooperativismo: como as cooperativas de agricultura familiar podem tirar famílias da pobreza e estimular o desenvolvimento socioeconômico sustentável, no Amapá

Há anos, cooperativas unem gerações transformando parte da natureza em fonte de renda, preservando a floresta em pé e fomentando a economia verde da região.

O cooperativismo movimenta a economia e gera renda para dezenas de famílias que sobrevivem da agricultura familiar nos mais longínquos cantos da Amazônia, no interior do Amapá, extremo norte do país. Elas têm conquistado cada vez mais importância no protagonismo socioeconômico, especialmente como alternativa de sobrevivência para comunidades ribeirinhas e trabalhadores rurais que produzem produtos do campo e da floresta.
Segundo o último Censo Agropecuário, a agricultura familiar é a base da economia de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes. O Brasil possui cerca de 4,3 milhões de estabelecimentos rurais que utilizam a terra para a agricultura familiar, ocupando uma área total de aproximadamente 80 milhões de hectares.
O papel das cooperativas vai muito além da ocupação no campo e geração de renda. O modelo de negócio contribui com o desenvolvimento sustentável e promove a inclusão social dos cooperados, que unem forças e se organizam para garantir o sustento de suas famílias com o cultivo de produtos da maior floresta tropical do mundo.

No Amapá, estado mais preservado do Brasil, as cooperativas de agricultura familiar geram fonte de renda, graças à abundância típica das comunidades ribeirinhas e do conhecimento ancestral milenar dos povos da floresta. Algumas cooperativas ficam distantes dos grandes centros urbanos e têm o privilégio de viver daquilo que a terra oferece: frutos, folhas, cascas, sementes, óleos e uma infinidade de elementos ricos e puros capazes de curar, alimentar ou até mesmo embelezar.
Distante 35 quilômetros da capital amapaense, no município de Mazagão, no assentamento Pancada do Camaipi, a Cooperativa dos produtos da Amazônia- CAMAIPI reúne 23 sócios cooperados e 30 fornecedores que dedicam seus dias à comercialização de óleos de pracaxi, copaíba, andiroba, coco, entre outros alimentos e derivados. A CAMAIPI foi criada em 2014, mas passou por um processo de reestruturação e em 2018 começou a comercializar. A produção e colheita dos alimentos são feitas em Mazagão, sede da cooperativa, e Ilha Caviana, no estado do Pará.

O óleo da semente de pracaxi é uma grande fonte de fitosteróis, sendo uma importante matéria-prima da Amazônia. Ele pode ser utilizado como alimento, tempero de saladas, em frituras, assim como no mercado de cosméticos como um super hidratante para pele e cabelos. Serve, ainda, para curar hematomas, devido ao seu alto poder anti-inflamatório, entre outras variedades, graças aos seus grandes benefícios.

A extração dos óleos é feita de forma artesanal, mas o óleo de pracaxi também tem na versão prensado. De janeiro a setembro do ano passado, foram produzidos e comercializados 500 litros de copaíba, 800 litros de óleo de coco, mil litros de pracaxi e 1,2 mil litros de andiroba. Os valores variam de acordo com a safra e entressafra, mas ficam entre R$ 50,00 e R$ 60,00 o litro. A CAMAIPI chegou a movimentar mais de R$ 185 mil durante esse período, beneficiando 88 famílias também com a produção de outros produtos como mandioca, macaxeira e milho, que ajudam a complementar a renda da comunidade.

A cooperativa cultiva, ainda, frutos como o açaí, além de produtos farmacêuticos homeopáticos. Por lá, o dia a dia dos cooperados é uma grande correria, principalmente na safra do açaí, entre os meses de junho e agosto. É quando o dia começa mais cedo e a labuta dobra com o translado da fruta in natura até às fábricas que ficam no município de Santana.
Esse açaí chega às mesas de lares no Amapá e ilhas ribeirinhas do Marajó, no Pará.
O presidente da CAMAIPI, Wilton José Vieira, disse que com muita luta a cooperativa conseguiu o Selo Amapá – Produtos do Meio do Mundo, certificação da Agência de Desenvolvimento Econômico do Amapá. O trabalho dos cooperados rendeu até o título de utilidade pública estadual, concedido pela Assembleia Legislativa do Estado. “No cooperativismo cada um faz a sua parte e todos crescem. Somos uma grande família e juntos encontramos trabalho e força para garantir o sustento das nossas famílias. Nosso objetivo é conquistar cada vez mais o nosso espaço”, disse.

A CAMAIPI é uma das fornecedoras da farmácia do Instituto de Estudos e Pesquisas do Amapá (Iepa), em Macapá- referência em medicamentos fitoterápicos- e abastece a unidade com um óleo de copaíba. Participa de várias mostras e feiras, inclusive no Sebrae, além de importantes eventos como a Semana do Meio Ambiente. Seus produtos também estão à venda em dois shopping centers da capital e em um box que funciona dentro da “feira maluca”, no bairro Buritizal, em Macapá.

Os cooperados trabalham utilizando as boas práticas de produção e colheita e plantam mudas de andiroba, entre outras espécies. Trabalham com manejo florestal sustentável de açaizais, o qual permite a exploração racional com técnicas de mínimo impacto ambiental sobre os elementos da natureza. As sobras são transformadas em abajures e artigos de artesanato e decoração, nada vai para o lixo.

De acordo com o Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2019, realizado pela OCB, só nos últimos oito anos, o número de pessoas que se uniram ao sistema formando cooperativas cresceu 62%, gerando aumento de 43% de empregos. Até ano passado, o Amapá havia registrado a existência de 165 cooperativas com cerca de 10 mil cooperados.
Os cooperados recebem capacitações e orientações da Organização de Cooperativas do Amapá (OCB/AP), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) do Amapá e Universidade Federal do Amapá (Unifap). A ideia é se aperfeiçoar e ganhar novos mercados para vender em maior escala às grandes empresas.

A cooperada da CAMAIPI, Vanda Maciel, explicou que o maior objetivo de serem cooperados é conseguirem viver da floresta. “Os ribeirinhos, as pessoas que vivem na floresta, são ricos porque a floresta é rica: as cascas, as árvores, as folhas, tudo isso traz recurso. Para 2020, pretendemos dobrar a nossa capacidade de produção e comercialização fazendo o nosso viveiro e uma mini-indústria de extração de óleo, sempre trabalhando a sustentabilidade com a floresta em pé”. E ainda acrescentou: “Queremos mostrar a 400 famílias da região que é possível viver do que a floresta produz e viver bem, com qualidade de vida”, afirmou.

O Sistema OCB define o cooperativismo como “mais que um modelo de negócios, sendo filosofia de vida que busca transformar o mundo em um lugar mais justo, feliz, equilibrado e com melhores oportunidades para todos. Um caminho que mostra que é possível unir desenvolvimento econômico e desenvolvimento social, produtividade e sustentabilidade, o individual e o coletivo”.

Assim, tantas cooperativas espalhadas pelo Amapá e mundo afora seguem conquistando seu espaço com união e esforço, priorizando a economia verde e garantindo o pão de cada dia, sem descuidar do meio ambiente.Continuam contribuindo significativamente na redução da pobreza, dos riscos ambientais e na escassez ecológica assegurando o desenvolvimento sustentável, justo e equilibrado onde há vida.

Autora: Paula Patricia Tavares Monteiro

About Lílian Guimarães

Assessoria de Comunicação OCB/AP Contato: 98124-9681

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