Cuidar das pessoas e preservar os recursos naturais. Essas são, sem dúvida, razões que tornam as cooperativas empresas ímpares quando o assunto é sustentabilidade. Graças à sua natureza essencial, pautada em princípios e valores universais, o movimento cooperativista brasileiro mostra que transformar uma realidade exige apenas dar o primeiro passo.
Um dos casos de sucesso é a Unimed Fortaleza que estruturou um premiado programa de responsabilidade socioambiental (RSA). Para Verbena Medeiros, coordenadora das ações de RSA da cooperativa médica, o consumidor da atualidade mudou e as organizações precisam estar atentas para continuar no mercado.
A Unimed Fortaleza tem como objetivo principal atuar, fortalecer e disseminar uma política de gestão empresarial sustentável por meio dos princípios do cooperativismo de forma íntegra e responsável junto aos seus públicos internos e externos. E, por meio de suas ações de RSA, atua na gestão social, gestão ambiental e gestão estratégica da cooperativa, alinhada com a Política Nacional do Sistema Unimed.
Segundo Verbena, o cliente moderno quer não apenas consumir os produtos de uma marca, mas se relacionar com ela. Confira a entrevista abaixo:
O conceito de sustentabilidade é bem maior do que imaginamos. Poderia nos dizer o que esse termo significa, considerando o ambiente empresarial?
A sustentabilidade, nesse recorte, é uma forma de gestão estratégica focada em todos os stakeholders, inclusive colaboradores e cooperados, que possa gerar ações e projetos que contemplem a perenidade da organização, sem impactar, negativamente, os recursos naturais e as comunidades do entorno da cooperativa.
Ou seja, a sustentabilidade empresarial, tem o objetivo de fortalecer a imagem da instituição. Além disso, enxergo esse conceito como algo que promove empresas mais enxutas, mais rápidas e que, ao mesmo tempo, balizadas, responsáveis e que possuem uma governança corporativa forte.
Então, o mercado valoriza muito isso. Hoje, é fundamental que as organizações, cooperativas, estejam atentas às questões da sustentabilidade. Quando falamos sobre esse assunto, parece que nos referimos apenas a projetos de consumo consciente, mas não é só isso. A sustentabilidade envolve todas as partes envolvidas.
Como as cooperativas que ainda não têm um projeto ou departamento estruturado para tratar dessa questão podem começar?
Entendo que, quando a empresa é uma cooperativa, ela já traz princípios e valores que fazem parte da sustentabilidade. O que as lideranças precisam é perceber isso. Quer um exemplo? O modelo de gestão das cooperativas traz em si questões ligadas à economia solidária, mais justa, fraterna e responsável.
Então, a partir do momento que a gente fortalece esses princípios e os anuncia, é possível inspirar, motivar, convocar, chamar parcerias e participar da construção de novos conceitos. Para mim, a sustentabilidade empresarial exige uma atitude de gestão, focada em conscientizar, mobilizar, inspirar. Nós necessitamos fortalecer a crença de que já somos um movimento sustentável.
E qual a vantagem de disseminar a sustentabilidade dentro da cooperativa?
Quando fazemos parte de uma organização na qual todos estejam envolvidos com o propósito da sustentabilidade, não é necessário falar o tempo todo o que precisa ser feito. Por si só, o colaborador ou cooperado já faz aquilo. É natural agir com responsabilidade, consciência e ética.
Uma das coisas mais valorizadas hoje é o conceito de estar presente naquilo que fazemos. Isso significa estar aberto, atento, ser cuidadoso e ter prazer. Precisamos de pessoas que sintam prazer no que faz diariamente.
Parece ideológico, mas isso é muito real quando os princípios e valores são colocados em prática pelos líderes. Por isso é necessário que os cooperados elejam, como seus representantes, aqueles que são capazes de materializar o pensamento coletivo que tem a “cara” da cooperativa. Mesmo com os princípios universais, cada cooperativa precisa ter o seu jeito, sua identidade, uma alma!
Quando falamos em sustentabilidade, logo outro conceito vem à mente: o valor compartilhado. Poderia comentar?
Essa questão é muito interessante, porque o mundo de hoje gira em torno de causas e sentimentos. As pessoas têm buscado um conceito que vai além do produto. Por exemplo, a empresa Natura coloca em seus produtos a palavra natural e, sempre que compramos um sabonete dessa marca, levamos para casa a certeza de consumir o que é saudável, concentrado, socialmente justo e ambientalmente correto. Esses são valores que mudam a marca.
Não dá para produzir apenas para vender. O que o consumidor quer é saber quem você é, como é o processo de produção, quais os valores da cooperativa. Não se trata mais de entregar um produto ou serviço, mas um conceito, uma causa. O consumidor de hoje toma para si a causa da cooperativa/empresa que melhor representa sua visão de mundo. No mercado da atualidade há espaço para incoerência. É preciso acreditar, fazer e mostrar.
Essa questão do valor compartilhado é uma dessas causas. É preciso dar sentido ao que é vendido. As pessoas precisam acreditar no seu motivo de vender um produto ou um serviço. Essas ‘costuras’ precisam ser feitas para se manter no mercado. Quando se faz isso, o melhor divulgador da marca será, além dos cooperados e empregados, os clientes. Serão advogados orgulhosos da marca.
Fonte: Sistema OCB